quarta-feira, 19 de março de 2008

Futuro

Um dia, daqui a muito, muito tempo, eu vou contar para o meu netinho:
- Ah, meu filho... Na minha época era tudo tão melhor... Quando eu era adolescente eu conheci muitas pessoas que tinham amigos de infância. E eu morria de inveja dessas pessoas porque eu não tinha nenhum amigo de infância. Da maioria eu nem lembrava, e dos que lembrava, não mais os conhecia. Não sabia como tinham ficado ou do que gostavam. Eu achava que eu não tinha amigos.
- Poxa, que chato...
- É... Só que aí um dia eu conheci duas pessoas muito especiais. Uma delas, foi o meu primeiro namorado; a outra, foi a minha fadinha.
- A senhora tinha uma fada, vovó?!
- Hahaha! Tinha sim, meu amor. Só que ela não era uma fada-madrinha, era uma fada-irmã. E nós aprontamos muito juntas. Riamos sem motivo, brincávamos sem motivo, porém éramos felizes com motivo. E que motivo!
- E então, vó, o que aconteceu?
- Então nesse meio-tempo eu conheci a Jessica. Ela sempre reclamava que o nome dela se escrevia sem acento. Tu já viste alguma Jessica que se escrevesse sem acento?
- Não...
- Pois é, eu conheci uma. Ô, menina geniosa, hein? Igualzinha a mim. Aliás, era o que todo mundo falava, que nós éramos uma o focinho da outra. Focinho de gato, claro. Ciumentas, orgulhosas, escandalosas, meigas, carinhosas... Éramos idênticas. Ela foi a irmã gêmea que eu não tive. Vivemos boa parte da juventude juntas e partilhamos segredos que ninguém mais desconfia, segredos de irmãs. Passou um tempo e eu me mudei para uma nova vizinhança. Tu já te mudaste alguma vez, filho?
- Não...
- Ah, dá muito trabalho! São caixas e mais caixas cheias de tralhas. E foi em meio a tanta bagunça que a minha vida se arrumou. Foi quando eu conheci o Itamar.
- Outro irmão?
- Não, não. Desta vez era mais como se fosse um pai. Meu anjinho da guarda. Ele me ensinou, em pouco tempo, lições valiosas, lições que eu jamais esqueci. E com ele aprendi a dar valor maior às amizades que se faz pelo caminho. Ele me ensinou a ser feliz de um jeito todo especial.
- E o que aconteceu depois, vó?
- Bem... Depois eu me dei conta, meu filho, que eu acabei tendo maior fortuna que as pessoas que eu invejava. Para quê amigos de infância se eu pude ter parentes, ainda que ilegítimos? Esses irmãos que a vida nos dá... Esses são os verdadeiros irmãos de sangue, aqueles dos quais a gente nunca esquece.

3 comentários:

Anônimo disse...

Bonito isso.
Valeu!
Lu

Anônimo disse...

Meu, onde tu arruma tanto sentimento pra escrever assim?

Seu Victor

Anônimo disse...

sabia que você é a pessoa mais linda que eu conheço?

POR DENTRO E POR FORA!


Te amo!