sábado, 8 de agosto de 2009

Maioridade

Estava ela lá, na frente de seu bolo de 6kg só de chocolate. Todos seus amigos e familiares reunidos em volta da mesa com câmeras. Flashes e mais flashes. A tão cantada canção de parabéns tinha começado e ela não conseguia conter o sorriso de orelha a orelha. Batia palma junto com os convidados e gargalhava com tanta naturalidade que todos riam junto com ela. Tinham calculado a hora do parabéns pra ela poder soprar as velinhas bem na hora da meia-noite, assim, ela estaria completando os 18 anos verdadeiramente.

Ela mal podia esperar. Faltavam apenas alguns segundos para ela ser maior de idade. A independência dos pais (não completa, mas ela poderia responder pelas suas atitudes agora), as bebidas compradas legalmente, a carta de motorista que estava por vir e as entradas de baladas que não seriam mais barradas. Tudo novo. Seria como se ela fosse ganhar um par de olhos novos e que tudo o que visse seria diferente a partir de então.

Já estava na parte do “e pra ela nada?” e seu coração estava aceleradíssimo. Sentia o sangue se concentrar em suas bochechas e sua respiração ficava cada vez mais funda e rápida. Fechou os olhos enquanto pensava que logo estaria com 18 anos. Imaginou como sua vida era até então. Não era ruim, claro... Mas ela não era maior. Seria uma transformação extraordinária, sem sombra de dúvida. Continuou de olhos fechados até ouvir o “rá-tim-bum” e as pessoas dizendo seu nome.

Abriu os olhos e assoprou as 18 velinhas. Aplausos e gritinhos de alegrias. Flashes e mais flashes. Ela olhou em volta. Parecia tudo normal, tudo tão igual. Seu sorrindo foi se desfazendo conforme as pessoas vinham com os abraços e beijos. Cadê aquela mudança? Cadê o par de olhos novos? Seria uma alteração tão sutil que não dava pra ver? A decepção foi tomando conta de seu coração e ela não entendia. Por quê? Queria tanto ver a diferença!

Sua mãe afastou a multidão em volta dela, abraçou-a com tanta força que a fez voltar pra realidade e perguntou se já se sentia diferente. A única reação que ela teve foi olhar para sua mãe e dar um sorrisinho amarelo. Só tinha conseguido pensar que era maior e que, tirando uma velinha a mais no bolo, tudo continuava igual. As mesmas pessoas no aniversário (alguns com umas rugas a mais, outros com namorados diferentes), na mesma casa, com o mesmo bolo só de chocolate que ela adorava.

Caiu a ficha: não mudaria. Tudo continuaria igual, como sempre. A rotina continuaria a mesma. O tempo continuaria passando, até com mais pressa. Logo ela faria 20, 30... E o que mudaria? Seu corpo, seu rosto? Sim, com certeza. As responsabilidades aumentariam e muito, muito mais do que ela esperava. Mas não era isso que ela queria? Por que, então, toda aquela expectativa tinha virado um peso? Não era pra ela ficar feliz como ela estivera em momentos atrás? E... por que ver isso tudo como um peso? Eram 18 anos, poxa vida! Ela tinha mais é que comemorar! Decidida, então, pensou em aproveitar sua festa assim como todos os momentos de sua existência.

Logo, o seu sorriso estava de volta e ela virou a noite dançando com seus colegas, familiares e namorado. Cantou no karaokê, bebeu cerveja (finalmente) estando dentro da lei, conversou com todos, brincou, riu, namorou e foi dormir tranqüila. Achava que se fosse para sentir as mudanças da maioridade, ela teria que fazer isso com as próprias atitudes.

Seu último pensamento, as 9h40 da manhã, antes de cair em um profundo sono foi: “Estou com 18 anos agora... E agora, minha vida vai ser FODA!” .

Um comentário:

Anônimo disse...

Pô, nem me lembro do meu niver de 18
Acho que eu nunca tive muita expectativa. Vai saber...

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kissuuuus