terça-feira, 23 de junho de 2009

Delírio (Parte 1 - O último dia)


Hoje é o meu último dia de vida;
Agora é o momento de lembrar de tudo o que vivi;
Esta é última chance que tenho de me arrepender;
Meu último momento para me orgulhar;
Pois não haverá um amanhã.

Devia me sentir privilegiado, não são todos que têm essa oportunidade,
Nem todos sabem quando sua hora está chegando,
Nem todos podem aproveitar realmente seu último dia...

Mas eu posso...

A chuva parecia ter vindo para tornar esse dia ainda mais triste – contudo eu não o enxergava mais dessa forma – esse dia seria memorável!

Correndo por entre os prédios gigantescos que me cercavam – antes me sufocavam – hoje não faziam mais diferença, nem me amedrontavam como outrora faziam.
Girava sem parar com a cabeça levantada aos céus – sentindo as gotas de chuva açoitando meu rosto.

Peguei algumas gotas com a língua...

Não saberia dizer se havia mais alguém na rua – as pessoas não faziam mais diferença – não tinha mais que agir normalmente, não tinha mais que agradá-las... Aquele era o meu dia – e de mais ninguém.

Hoje é o meu último dia de vida – quero fazer algo que nunca fiz...
Quero fazer algo que ninguém nunca fez...

Corria como nunca havia feito antes – girando nos postes do caminho – saltando;
Entoando uma música que não existia – uma música que só havia em minha cabeça – que há muito estava presa em minha mente – tanto que sequer me lembro se houve um tempo em que ela não esteve ali;
Sem sentido, alucinante;

Girava com as mãos na cabeça – berrando o mais alto que conseguia a ária sem nome – tentando dar-lhe vida – ou tirá-la de minha cabeça, estava ali a tempo demais...
E não precisava de esforço algum, a canção se formava com tanta facilidade – sem pensar, só abria a minha boca e as palavras voavam;
Nunca havia notado que ela realmente tinha uma letra – ou talvez estivesse me surgindo somente naquele instante;

“Tive um sonho que ninguém mais teve...
Nele eu era o céu... Eu era o mar...
De um reino indescritível, eu era o soberano.
Eu era o início... Eu era o fim...”

Me atirei no chafariz da praça central, chutando a água apenas para vê-la levantar, como uma criança;
E me deixei cair na grama ao lado...
As gotas de chuva misturando-se às lágrimas que brotavam em meus olhos,
Mas eu estava bem, honestamente...

Agora poderia terminar o que havia começado...

Novamente em meu quarto – meu esconderijo – ou talvez a minha masmorra – , eu observava o teto – o cano frio da arma encostada a minha cabeça – a mente vagando por algo que eu não sabia dizer se era arrependimento ou alívio;
O fim de minha angústia havia enfim chegado.

Comecei a lembrar de cada detalhe de minha vida – apenas os mais sem propósito – as coisas mais simples que antes eu não dava atenção – preferências, manias minhas que nunca tinha notado, traumas bobos de infância;
Tudo me parecia bobo e sem sentido agora. – Pois era o fim.

... Ouvi batidas – e as ignorei – ninguém mais me procuraria – devia ser algum devaneio;
As contas foram desfeitas, as pessoas afastadas;
Talvez eu já tivesse até apertado o gatilho – e só não tivesse percebido...

... As batidas novamente...
Vindas da janela.

Mas eu estava no 3° andar – devia estar sonhando...
Continua (se vocês quiserem, é claro) xD

4 comentários:

Marcos disse...

Deve continuar, pois por alguma razão, adoro o teu jeito de escrever. Sério. Eu compraria um livro teu.

Unknown disse...

não preciso nem dizer...CLARO
CONTINUA. me imaginei na pele do tal suicida...tmb compraria teu livro

Anônimo disse...

parou porqueeee?
porque parooooooou?

eiuaheiuaheuia :D

†Shinigami Hiroshi† disse...

demorô..qdo sai a próxima!!!!!